Do fundo do baú:
Uma ideia que pode ser retomada. Servirá para muitos políticos que nem sabem o que é uma Constituição!
O final da década de 1940, o cientista social Gilberto Freyre envolve-se num caloroso debate sobre uma ameaça ao mundo infantil: as histórias em quadrinhos. Em 1944, psiquiatras estadunidenses afirmam que a leitura de gibis causa delinqüência, prostituição e homossexualismo. O Ministério da Educação brasileiro adiciona outro sintoma: preguiça mental.
A “coqueluche do momento” alarma também editoras, mas por outra razão: os gibis vendem muito mais que livros, e mais rápido. Em 1948, influenciados pelo debate, políticos tentam censurar as revistinhas. Gilberto Freyre, deputado desde 1946, discursa na tribuna contra a medida. Defende que um ataque à literatura infantil é um ataque a toda a literatura. E que o gênero poderia servir como “elemento de ajuda na alfabetização e no ajuste da personalidade às lutas da agitada época por que passa o mundo”.
Na revista O Cruzeiro, argumenta que, apesar de publicar aventuras de gangsters ecowboys, educadores podem utilizar positivamente as revistinhas na iniciação literária dos mancebos. A leitura beneficiaria até os adultos, como alívio às dificuldades cotidianas. Sugere também que se fizesse uma versão da Constituição de 1946 em quadrinhos, para ser melhor assimilada pela população.
Quase 50 anos depois, o maior clássico de Freyre, Casa Grande & Senzala, ganha versão em quadrinhos, confirmando a previsão de Monteiro Lobato: Felizmente o mundo vai ser o que Gilberto Freyre disser.
Fonte: Almanaque Brasil
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